Detectar encantos em lugares estranhos é recusar ser enfeitiçado pelo obvio.É fácil demais encontrar encanto num par de olhos ou nos contornos de uma boca bem formada. Seria mais difícil detectá-los nos movimentos de uma Mão de mulher no caixa de um supermercado. 

Os maneirismos de chole eram os sinais de uma perfeição mais ampla que um amante poderia encontrar. Eram como as pontas de um iceberg, uma indicação do que havia por baixo.

O anseio por um destino não é em nenhuma parte mais forte do que em nossa vida romântica. Por tantas vezes forçados a dividir nossa cama com aqueles que não têm acesso à nossa alma, não podemos ser perdoados se acreditamos que estamos destinados a um dia encontrar o homem ou mulher de nossos sonhos? Não podemos ser perdoados por uma certa fé supersticiosa numa criatura que será a solução de nossos anseios incansáveis? 

O amor foi algo que senti muito de repente, pouco depois que ela havia embarcado no que prometia ser uma história muito longa e muito chata sobre umas férias que havia tirado num versão com seu irmão em Rodes. Enquanto Chloe falava, eu via suas mãos mexendo na fivela de seu casado de lã bebe e percebi que eu a amava. 

Para os que amam a certeza, a sedução não é território em que se deva entrar. Cada sorriso e cada palavra se revelam como uma avenida que leva a uma dúzia, se não a doze mil possibilidades. Gestos e observações que na vida normal (ou seja, na vida sem amor) podem ser entendidos literalmente agora exaurem dicionários com possíveis definições. E, pelo menos para o sedutor, as dúvidas se reduzem a uma questão central, encarada com o temor de um crimino aguardando sentença: Ela/ele me deseja ou não deseja?


Assim que uma pessoa começa a procurar sinais de atração mútua, qualquer coisa que o amado diz ou faz pode ser levado a significar tudo.


Não existe território mais rico para estudiosos da psicologia humana do que o da manhã do dia seguinte.

Trechos do livro Ensaios de amor de Alain de Botton