MEMÓRIA DAS MINHAS PUTAS TRISTES
"No ano de meus noventa anos quis me dar de presente uma noite de amor louco com uma adolescente virgem. Lembrei de Rosa Cabarcas, a dona de uma casa clandestina que costumava avisar aos seus bons clientes quando tinha alguma novidade disponível. Nunca sucumbi a essa nem a nenhuma de suas muitas tentações obscenas, mas ela não acreditava na pureza de meus princípios. Também a moral é uma questão de tempo, dizia com um sorriso maligno, você vai ver. "
(...)


"Entrei no quarto com o coração desvairado e vi a menina adormecida, nua e desamparada na enorme cama de aluguel, tal e como sua mãe a tinha parido. Jazia meio de lado, de cara para a porta, iluminada pelo lustre com uma luz intensa que não perdoava detalhe algum. Sentei-me para contemplá-la da beira da cama com um feitiço dos cinco sentidos. Era morena e morna. Tinha sido submetida a um regime de higiene e embelezamento que não descuidou nem dos pêlos de seu púbis. Haviam cacheado seus cabelos e tinha nas unhas das mãos e dos pés um esmalte natural, mas a pelo de cor de melaço parecia áspera e maltratada. Os seios recém-nascidos ainda pareciam de meninos, mas viam-se urgidos por uma energia secreta a ponto de explodir. "

"Era impossível imaginar como seria a cara lambuzada de cores, a espessa crosta de pó-de-arroz com dois remendos de carmim nas bochechas, as pestanas postiças, as sobrancelhas e pálpebras que pareciam pintadas com tição, e os lábios aumentas com um verniz de chocolate. "

"Mas nem os trapos nem as tinturas eram suficientes para dissimular seus gênio. O nariz altivo, as sobrancelhas encontradas, os lábios intensos, pensei: um meigo touro de briga. Às onze fui aos meus assuntos de rotina no banheiro, onde estava sua roupa de pobre dobrada sobre uma cadeira com um esmero de rica: um vestido de algodãozinho barato com borboletas estampadas, umas calcinhas amarelas de chita e umas sandálias de corda trançada. "
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"Urinei na privada sentado e como me ensinou, desde menino, Florina de Dios, para que não molhasse a beira do vaso, e ainda, modéstia à parte, com um jorro imediato e continuo de potro bravio. "
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"Tratando de não disparatá-la, sentei-me nu na cama com os olhos já acostumados aos enganos de luz avermelhada, e revisei-a palmo a palmo. Deslizei a ponta do dedo indicador ao longo de sua nuca empapada e ela inteira estremeceu por dentro como um acorde de harpa, virou-se para mim com um grunhido e me envolveu no clima de seu halito ácido. Apertei seu nariz com o polegar e o indicador, e ela se sacudiu, afastou a cabeça e me deu as costas sem despertar. "
"Tentei separar suas pernas com meu joelho por causa de uma tentação imprevista. Nas duas primeiras tentativas ela se opôs com as coxas tensas. cantei em seu ouvido: A cama de delgadinha de anjos está rodeada. Relaxou um pouco. Uma corrente cálida subiu pelas minhas veias, e meu lento animal aposentado despertou de seu longo sono.Delgadinha, minha alma, supliquei ansioso. Delgadinha. Lançou um gemido lúgubre, escapou de minhas coxas me deu as costas e enroscou-se como um caracol em sua concha."

Gabriel Garcia Marquez