COCA-COAL, GELADEIRA E INCOMPETÊNCIA BRASILEIRA
Mantenho minha posição: um país que não produz seu refrigerante é incompetente.
Uma nação incapaz de produzir seus próprios carros é tupiniquim.
Ainda ninguém me convenceu: como é que um país não consegue produzir as suas próprias geladeiras, a sua pasta-de-dente, os seus refrigerantes e por aí afora?
Fiquemos com o exemplo das geladeiras.
O Brasil tem marcas nacionais, mas as multinacionais mandam no mercado e, segundo dizem os consumidores, oferecem produtos superiores.
Eu fico me perguntando, entre uma página de Flaubert e uma sonata de Beethoven, qual pode ser a tecnologia tão sofisticada necessária para fabricar uma geladeira superior?
Andei examinando a geladeira lá de casa.
A empregada até estranhou, pois nunca tinha me visto na cozinha.
Fiquei com a impressão de que uma geladeira só ganha em complexidade de um prendedor de roupas.
Nunca vi um aparelho tão simples. Não passa de um caixão de metal que produz gelo e ronrona enquanto a gente dorme.
Então como é que o Brasil não consegue inundar o mercado com as suas próprias geladeiras?
Um especialista me explicou que não conseguimos o mesmo design.
Outro, jurou que não logramos ser competitivos.
Continuo perplexo: o que pode ser necessário para fazer geladeiras baratas e eficientes?
Não estou falando de ideologia, mas de competência mesmo.
Tomei uma Coca-Coca.
É um líquido de gosto indefinido e cor duvidosa.
Fiquei lavando a boca com aquele xarope e pensando: como pode um país não ser capaz de produzir o seu próprio refrigerante? Escovei os dentes e, com a pasta na boca, tive a sensação de se tratar de uma coisa banal.
O que nos falta para produzir uma geladeira que dispense todas as estrangeiras? Cada país minimamente desenvolvido deveria ser auto-suficiente em geladeiras. Ao menos. E em cerveja, palitos, sorvetes e cuecas.
Na época, falei com Antônio Carlos Baldi, que me dava carona depois do Guerrilheiros da Notícia. Após repassar o argumento da tecnologia e do preço, com sua franqueza admirável, sugeriu que o decisivo é o “poder das marcas”.
Torci a informação: somos patos da publicidade. Compramos a marca, não o produto.
Adquirimos por fé na propaganda e na qualidade com selo vindo de fora.
E eu que tinha o homem por racional!
Continuo com a tese: país incapaz de produzir todas as suas geladeiras não merece ter lugar permanente no Conselho de Segurança da ONU. Nem um Prêmio Nobel de Literatura.
É uma questão de clima e de civilização: pelo jeito, um país tropical nunca será capaz de produzir geladeiras de primeiro mundo. Muito menos carros que cumpram a mera função de rodar direitinho.
Somos muito incompetentes.
Precisamos importar até marca de pizza.
A culpa de tudo é dos publicitários.
Afinal, são eles que nos convencem de coisas bizarras como esta: com uma boa pizza, nada melhor do que uma coca-cola.
Tenho passado horas na cozinha observando nossa geladeira.
Ela não me chama a atenção em nada.
Lembra vagamente o Faustão depois da operação para reduzir o estômago,
Ainda vou decifrar o mistério da geladeira.
Se eu conseguir, o Brasil dará um salto para o futuro.
Mais fácil Luiz Inácio enrolar o Irã do que o Brasil se tornar autossificiente em geladeiras.
Esse é o nosso problema.
Eu avisei!
Juremir Machado da Silva