UMA HISTÓRIA DE TRAIÇÃO
A namorada de um amigo meu, o pezinho dela é número 35. O que é uma sorte para ele, vocês sabem como são as mulheres que calçam 35, ah, claro que vocês sabem…
Trata-se de um homem bem-sucedido, o meu amigo. Ganha um bem fornido salário a cada dia 5, e sabe como usufruí-lo no restante do mês. É dono de gosto requintado, aprecia vinhos finos, fuma charutos olorosos, dirige carros rápidos e mora numa suntuosa cobertura, com piscina, salão de jogos e tevezona de tela plana.
Ocorre que, não faz muito, ele resolveu reformar a cobertura. Em meio às obras, aconteceu de o meu amigo envolver-se com outra mulher que não sua namorada de pé 35. O pudico leitor, nesse momento, deve estar escandalizado: Um adúltero! Sim, também me escandalizei, ao saber da história, e o admoestei severamente, mas, que fazer?, há pessoas assim no mundo…
Desta forma, mesmo sem minha aprovação, meu amigo conduziu a moça para sua cobertura e… oh!, fez amor com ela. Horas depois de o ato lascivo ter sido consumado, porém, a namorada traída foi visitá-lo.
A Outra já tinha ido embora, não restavam nem os eflúvios do pecado, meu amigo sentia-se seguro, ao recebê-la. No entanto, a namorada chegou, entrou na cobertura e, antes mesmo de dizer oi, benzinho, berrou:
A Outra já tinha ido embora, não restavam nem os eflúvios do pecado, meu amigo sentia-se seguro, ao recebê-la. No entanto, a namorada chegou, entrou na cobertura e, antes mesmo de dizer oi, benzinho, berrou:
- Mas o que é que é isso???
- Isso o quê? - quis saber meu amigo, já olhando para os lados, temendo ter deixado alguma prova à vista.
- Pegadas! - exclamou a namorada.
- Pegadas???
Pegadas, de fato. A Outra havia deixado pegadas no pó gerado pelas obras de reforma do apartamento e a namorada, uma autêntica discípula do detetive Columbo, descobriu. Meu amigo, aflito, tentou a saída clássica:
- Ora, Tiutiuquinha, essas pegadas são tuas!
Ao que ela lhe desferiu a estocada fatal:
- Não são! Essas pegadas são de alguém que tem o pé menor do que o meu!!!
E, realmente, a Outra tinha pé ainda menor do que o da namorada. A Outra, pequeninha, jeitosinha, de nádegas empinadinhas e seios… bem, o que interessa é que a Outra calçava 33.
Meu amigo alarmou-se ao constatar que a namorada estava com a razão, que as pegadas da Outra eram mesmo uma coisinha delicadinha e pequeninha e… enfim, ele ficou nervoso. Mas reagiu rapidamente. A namorada já rosnava de fúria, já parecia pronta para tomar alguma atitude violenta, quando meu amigo, sem perder o sangue frio, fazendo luzir um sorriso plácido sob o nariz adunco, explicou:
- Aaaah, Tiutiuquinha, isso é coisa do anão.
A namorada piscou, perplexa:
- Anão?
- É - confirmou ele. - Foi o anão.
- Que anão???
- Simples, Tiutiuquinha, simples: é que a empresa que está fazendo essa reforma no meu apartamento é muito profissional…
- E o que é que tem isso???
- Já explico. Olha ali em cima. Aquele andaime.
Ela olhou.
- É preciso fazer obras naquele vão - prosseguiu meu imaginoso amigo. - E, como você está vendo, o espaço é muito pequeno! Então, eles têm um anão para fazer esse tipo de serviço. E foi isso: o anão veio aqui, subiu no andaime e fez o trabalho que só um anão poderia fazer!
A namorada ficou olhando-o, boquiaberta. E acreditou!
Eu cá tenho uma explicação para a credulidade dela. Deu-se graças à criatividade dele. Uma justificativa assim colorida comove o ouvinte, mesmo que seja inverossímil, ou até por isso. Ao contrário das justificativas dos treinadores para as más atuações dos seus times. Abel, por exemplo, atirou a responsabilidade pelo fraco desempenho do Inter contra o Veranópolis no vento. Que desculpinha! Ninguém levou a sério. Melhor seria se Abel tivesse culpado o anão. Eu, a partir de agora, sempre vou colocar a culpa no anão!
*Texto publicado ontem na página 51 de Zero Hora.
Postado por David